Design (d)e Comunicação

Nas últimas décadas, o design tem vindo a expandir-se em várias direcções, mas a educação na área demonstra alguma dificuldade em acompanhar e responder aos novos desafios lançados por uma indústria em rápida evolução. Como se define o trabalho de um designer, hoje em dia? Quais são as valências que devem ser ensinadas?

Nas plataformas digitais, temos assistido à emergência do interaction design, do game design e do design para apps. Algumas ferramentas de gestão incluem agora o chamado design thinking, aplicado no design de serviços ou mesmo num design de cariz mais humanitário e social. Cada vez mais o design passa a ser visto como uma forma de pensar – uma mentalidade – em vez de uma ferramenta, e o design gráfico não é excepção. Enquanto o ensino manifesta os sintomas próprios de uma gestão demasiado académica e afastada das necessidades reais da indústria, o mercado da educação para o design continua a crescer.

No ensino superior, os designers gráficos aprendem a dialogar com outros designers, quando a verdadeira necessidade se prende com uma aprendizagem focada em como se deve falar sobre design com os ‘não-designers’, ou com membros das comunidades ‘vizinhas’ à do design, como é o caso da indústria gráfica. A educação na área do design precisa de estar conectada e interligada, e de assumir a responsabilidade de incentivar os alunos a ter abertura para trabalhar em diferentes contextos e em conjunto com os clientes e a indústria, de forma a garantir uma adaptação sustentada ao mundo do trabalho.

Prova desta lacuna no ensino é que a falta de comunicação entre os designers e os impressores ainda seja um dos problemas mais comuns da indústria gráfica, sendo também uma das formas mais correntes de se desperdiçar recursos insubstituíveis, resultando numa produção gráfica que fica aquém das expectativas do designer e das capacidades do impressor. Não pensemos na comunicação entre designer e gráfica apenas em relação a questões denominadas ‘técnicas’, tais como a utilização correcta do bleed, das marcas de corte ou mesmo o aproveitamento da matéria-prima e do plano de impressão; pensemos antes no know-how de quem trabalha numa gráfica, bem como na cultura visual e sensibilidade adquiridas com a experiência. Não será a discussão do conceito de um trabalho com a gráfica responsável pela sua execução tão – ou mais – importante do que o planeamento objetivo do mesmo? Não poderá esta troca de experiências levar a uma procura de soluções criativas que o designer poderá não saber encontrar sozinho? Será que algumas das questões vistas como ‘limitações’ pelo olho do designer não podem ajudar na comunicação de um determinado conceito, transformando-se antes em possibilidades gráficas? O ensino e implementação de uma “metodologia” única para o design descarta estes (e outros) elementos variáveis, que deveriam ser considerados passos incontornáveis de um modelo global de metodologia projetual.

Num projeto de design para impressão, será realista considerar que a gráfica deve ser deixada de parte até ao momento da concretização material? Igualmente, será que o papel desempenhado pelo designer termina a partir do momento em que o trabalho – num formato ainda embrionário e digital – é passado para o lado da gráfica? Numa altura em que tudo se pretende prático, barato, rápido, digital ou online, o desenvolvimento de uma relação de confiança com a indústria gráfica é uma ‘arte’ algo perdida, cujas vantagens esquecidas podem ser de extrema importância tanto para os designers a trabalhar por conta própria como para aqueles que estão enquadrados no meio empresarial.

Apesar de todos os designers e gráficas terem a sua forma de gerir projetos, há algumas formas de interacção que, partindo do designer, podem ajudar a iniciar e fortalecer uma relação com a gráfica com que este pretende trabalhar:

Interesse em conhecer a gráfica

Numa era em que tudo é tratado por telefone, mensagem ou e-mail, conhecer pessoalmente os intervenientes no processo de produção gráfica pode tornar-se numa mais-valia indispensável. Pedir um tour do espaço físico da gráfica pode ser também vantajoso para uma melhor compreensão da ‘vida’ de um trabalho impresso, desde a pré-impressão até à acomodação para transporte.

É importante que o designer conheça as gráficas com quem trabalha para que saiba identificar e entender os pontos fortes de cada uma, de forma a poder construir um leque de parceiros de trabalho que abranja as várias áreas de actuação que lhe interessam; desde livros encadernados à mão, a cartazes offset, a flyers digitais ou mesmo a convites letterpress.

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Honestidade quanto à experiência prévia na área

Não há melhor lugar para um designer recém-licenciado procurar ajuda na concretização dos seus primeiros trabalhos impressos do que numa gráfica com experiência, onde terá acesso a arte-finalistas, impressores, catálogos de fornecedores de papel e uma variedade de acabamentos à disposição.

A honestidade quanto à experiência é fulcral para que o apoio adequado possa ser prestado desde o primeiro contacto.

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Vontade de aprender

A gráfica escolhida para executar um trabalho terá certamente vontade de investir tempo no designer responsável pelo mesmo se este se demonstrar entusiasmado com a ideia de aprender mais sobre o processo de impressão.

Ter a oportunidade de ver de perto todos os passos envolvidos na realização de um trabalho irá indubitavelmente contribuir para um aprofundamento na compreensão do esforço e custos implicados.

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À-vontade para partilhar ideias

Uma boa gráfica mostrar-se-á interessada no trabalho que tiver em mãos, sabendo fazer as perguntas certas. A abertura para dialogar com o interlocutor da gráfica é importante para que a intenção do trabalho seja clara. A mensagem a comunicar através do objeto impresso pode – e deve – ser potenciada pelas técnicas e meios escolhidos para a produção.

Se o designer estiver a trabalhar com um budget apertado, este conhecimento e partilha de ideias podem tornar-se especialmente relevantes, refletindo-se numa procura sustentada de alternativas criativas para um mesmo trabalho e permitindo a redução de preços e tempos de execução, sem que o aspeto gráfico seja comprometido.

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Fornecer especificações de impressão

Toda a informação que o designer possa fornecer à gráfica é útil.

Na lista de informação indispensável para a concretização de um trabalho impresso deve incluir-se: uma descrição do trabalho; o tamanho final do produto impresso; a identificação do processo de impressão (digital, letterpress, offset…); o tipo de papel a utilizar; indicações especiais sobre cortantes, acabamentos e montagem (quando necessário); a quantidade a produzir; deadline e informação sobre o local de entrega.

No caso de ser necessária a elaboração de maquetes ou provas, esta opção deve ser discutida, de forma a que o trabalho possa ser aprovado e gerido de forma conveniente para todas as partes.

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Feedback

Todos os trabalhos impressos têm falhas. Se estas falhas forem imprevistas, o contacto prévio com a gráfica servirá de base para uma discussão aberta e construtiva acerca das melhorias que podem ser feitas numa próxima colaboração. Se as falhas forem ‘pequenos defeitos’ próprios dos métodos de impressão e acabamentos aplicados, estas devem ser vistas como parte integrante do processo analógico de impressão. A beleza destes ‘defeitos’ remete-nos para a complexidade e manualidade inerentes à indústria gráfica, relembrando-nos do carácter humanizado e próprio do objeto impresso.

O feedback – positivo ou negativo – é de extrema importância para o desenvolvimento e manutenção de uma boa relação com uma gráfica.

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A longo prazo, esta troca de impressões e experiências deverá ser enriquecedora para todas as partes envolvidas, resultando num crescente portefólio de trabalhos conjuntos que virão dar credibilidade ao designer, à gráfica e ao cliente, beneficiando este último do melhor resultado possível.

Um crescente grau de confiança nas capacidades de organização e execução de uma gráfica também pode ser um trunfo inestimável para o designer que queira sentir-se seguro na adjudicação de um trabalho que, por algum motivo, não possa acompanhar com a proximidade habitual. Uma vez conhecido o standard de qualidade expectável, a gráfica deverá tornar-se capaz de dar seguimento a pedidos com alguma independência.

Encontrar este equilíbrio entre o input do designer e o conhecimento da gráfica é um processo que requer tempo, dedicação e diligência. Enquanto o ensino se preocupa em encontrar a melhor forma de acomodar estas necessidades nos seus programas, cabe ao designer manter-se interessado e procurar questionar-se acerca das melhores formas para garantir que o trabalho ao qual dedicou longas horas seja impecavelmente executado.

No final, é um descanso saber que temos pessoas reais do nosso lado, a trabalhar diariamente para que a visão dos designers tenha na impressão a sua melhor versão!

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Autora: Francisca Paiva
Designer na Castelbel. Licenciada em Design de Comunicação pela Escola Superior de Artes e Design de Matosinhos e pós-graduada pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, desde cedo se habituou à ideia de que o copo ou se encontra meio vazio, ou já só está meio cheio. Vive dentro da caixa – longe da multidão – e encontra possibilidades nas arestas. Sente, ainda, alguma relutância em falar de si mesma na terceira pessoa, mas espera que o design a ajude a contar histórias.

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